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Governo volta atrás do IOF? Saiba mais.

A proposta do governo brasileiro em não eliminar ou não reduzir o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) neste momento está diretamente relacionada a questões fiscais e de responsabilidade orçamentária.

Mas parece que o governo brasileiro tem batido cabeça em definir o que será taxado ou não. Parece que agora, o IOF será excluído dessa pauta. Por enquanto, o governo e a equipe econômica só batem cabeça.

Sobre o IOF e o contexto atual (junho de 2025)

O IOF é uma importante fonte de receita arrecadatória para o governo federal, especialmente em um momento em que o governo está sob pressão para cumprir metas fiscais, como o déficit zero ou déficit controlado proposto pelo Ministério da Fazenda.

Motivos para manter o IOF:
  1. Arrecadação relevante:
    O IOF, apesar de parecer pequeno para o consumidor em operações como câmbio ou crédito, rende bilhões por ano ao Tesouro Nacional. Reduzi-lo agora poderia comprometer a arrecadação.
  2. Meta fiscal do governo Lula-Alckmin:
    O ministro Fernando Haddad vem tentando cumprir o arcabouço fiscal com metas de resultado primário. Abrir mão de tributos agora poderia fragilizar esse compromisso com o mercado e aumentar a percepção de risco fiscal.
  3. Negociações com o Congresso:
    O governo está buscando aprovar outras reformas, como a regulamentação da reforma tributária (IVA, CBS, IBS). Mexer no IOF agora poderia complicar o ambiente político e as negociações em andamento.
  4. Compensações exigidas por lei:
    Qualquer renúncia fiscal (como a redução ou isenção de IOF) exige, pela Lei de Responsabilidade Fiscal, a apresentação de medidas compensatórias — o que o governo ainda não tem definido.

Ao se referir à isenção do IOF em operações de câmbio, que estava prevista para ocorrer de forma escalonada até 2029 (conforme compromisso com a OCDE), o governo também vem sinalizando atrasos nesse cronograma justamente por razões fiscais.

A proposta de taxar LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) é uma ideia que o governo federal, por meio do Ministério da Fazenda, vem estudando ou sinalizando como parte da busca por mais equilíbrio fiscal e maior justiça tributária.

Governo volta atrás do IOF, e agora?

Hoje, LCIs e LCAs são isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas, o que as torna muito atrativas como investimento, principalmente para investidores de alta renda.

Proposta de mudança:

A ideia central é acabar com a isenção de IR sobre os rendimentos desses ativos, passando a aplicar a mesma tabela regressiva de imposto que incide sobre outros investimentos de renda fixa, como CDBs, fundos DI, etc.

Justificativas do governo:

  1. Equidade tributária:
    Atualmente, apenas uma parte da população tem acesso significativo a LCI e LCA, e esse grupo costuma ser de renda mais alta. O governo vê a isenção como um privilégio regressivo (quem tem mais, paga menos).
  2. Aumento de arrecadação:
    Com o fim da isenção, o governo poderia aumentar significativamente a arrecadação sem criar um novo imposto, apenas retirando um benefício.
  3. Correção de distorções:
    A isenção gera distorções no mercado financeiro, com investidores e bancos focando muito em LCI/LCA por motivos tributários, e não por mérito econômico puro.

Obstáculos e debates:

  • Setores do agronegócio e da construção civil são contra:
    Eles argumentam que LCIs e LCAs financiam diretamente seus setores e que a mudança encareceria o crédito, reduzindo investimentos nesses setores importantes.
  • Investidores e bancos também pressionam:
    Os bancos usam LCI e LCA como instrumentos para captar recursos mais baratos. A taxação pode reduzir o apelo desses papéis, forçando os bancos a oferecer taxas mais altas (custando mais para eles).
  • O Congresso é reticente:
    Como muitos parlamentares têm ligações com o agronegócio ou defendem pautas liberais, a proposta encontra resistência política.

Status atual:

Até junho de 2025, o governo ainda não enviou um projeto formal ao Congresso para taxar LCI/LCA, mas a equipe econômica estuda essa medida como parte de um “pacote de revisão de benefícios fiscais”. Pode ser incluída nas próximas propostas orçamentárias ou numa eventual segunda fase da reforma tributária.

Taxação de LCIs e LCAs: quais setores serão mais impactados?

A taxação de LCIs e LCAs teria impacto direto e indireto sobre diversos segmentos, mas afetaria principalmente:


🏦 1. Bancos e instituições financeiras

Impacto: Alto

Esses papéis são emitidos principalmente por bancos como forma de captar recursos para financiar os setores imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA).

Bancos mais afetados:

  • Banco do Brasil (forte no agronegócio → LCA)
  • Caixa Econômica Federal (líder em crédito imobiliário → LCI)
  • Santander, Bradesco, Itaú Unibanco e BTG Pactual (grandes emissores de ambos)

Como seriam afetados:

  • Teriam que oferecer taxas mais altas para atrair investidores, encarecendo o custo de captação.
  • A queda na atratividade de LCI/LCA pode redirecionar investidores para CDBs, fundos DI ou Tesouro Direto, o que exigiria revisão de suas estratégias de funding.

🧱 2. Construtoras e incorporadoras

Impacto: Médio a alto

Essas empresas são beneficiadas indiretamente, pois os bancos usam o dinheiro captado com LCI para financiar crédito imobiliário.

Empresas mais afetadas:

  • MRV, Direcional, Tenda (populares no Minha Casa Minha Vida)
  • Cyrela, EZTEC, Lavvi, Helbor, Trisul, entre outras de médio e alto padrão

Como seriam afetadas:

  • O custo de crédito pode subir para consumidores, reduzindo o volume de financiamento e, portanto, de vendas.
  • Imóveis mais caros, com maior dependência de financiamento privado, seriam mais afetados do que os da faixa social atendida por programas públicos.

🌱 3. Empresas do agronegócio

Impacto: Médio

Embora o crédito rural também conte com fontes subsidiadas, a LCA é uma forma relevante de funding para o agro, especialmente o agronegócio empresarial.

Setores mais impactados:

  • Grandes tradings agrícolas, cooperativas, e produtores de grãos
  • Empresas integradas como SLC Agrícola, BrasilAgro, JBS, Marfrig, BRF, se forem tomadoras de crédito atrelado à LCA

📊 4. Plataformas de investimento e gestoras

Impacto: Médio

Plataformas como XP, Rico, BTG Digital, NuInvest, Inter, Guide, Órama, Warren, etc., oferecem LCIs/LCAs como produtos atrativos para investidores pessoas físicas.

Como seriam afetadas:

  • A atração de clientes de varejo pode cair se esses produtos perderem sua vantagem fiscal.
  • Terão que migrar fluxo para outros produtos como CDBs ou fundos de renda fixa, o que pode afetar margens de comissionamento.
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👨‍👩‍👧‍👦 5. Investidores pessoa física de alta renda

Impacto: Direto e negativo

Muitos investidores utilizam LCIs e LCAs para:

  • Evitar o IR
  • Maximizar rentabilidade líquida
  • Diversificar portfólio de renda fixa

Com a taxação, o retorno líquido cairia, e muitos migrariam para Tesouro Direto, fundos isentos (como FIDCs ou debêntures incentivadas), ou ativos de risco moderado.


💡 Resumo visual do impacto:

SetorImpacto da TaxaçãoExemplos de empresas
BancosAltoBB, Caixa, Itaú, BTG, Bradesco
ConstrutorasMédio-AltoMRV, Cyrela, Tenda, Direcional
Agronegócio empresarialMédioSLC Agrícola, BrasilAgro, JBS
Plataformas de investimentoMédioXP, BTG Digital, NuInvest
Investidores pessoa físicaAlto (direto)Alta renda, planejamento patrimonial

Vale aguardar e entender os próximos passos do governo para se preparar.

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